terça-feira, 21 de abril de 2009

Cuidar dos outros e de nós próprios

Numa das primeiras aulas da unidade curricular, o professor António Nabais convidou-nos a saltar individualmente de cima da lareira da sala de aula em direcção aos braços entrelaçados de cerca de dez colegas. Fi-lo! Com medo, mas fi-lo! Gritei inclusivamente!
Tenho medos internos,
como cada um de nós. Tenho medo da solidão, medo de perder as pessoas que amo, medo de não ser capaz, de ser má enfermeira. É curioso que o meu maior medo seja de mim mesma: sinto que sou ilimitada, que vou buscar forças não sei onde nos momentos difíceis, que posso ser muito “boa” mas também o pior dos seres humanos. Dentro de mim reúnem-se capacidades que nem eu mesma conheço. Muitas vezes penso que as características menos “boas” que existem dentro de cada um de nós, se bem canalizadas, podem contribuir para um resultado positivo como, por exemplo, a canalização da raiva ou ira em defesa dos direitos humanos. Sou muito insegura; tenho pouca confiança e auto-estima. Talvez porque, por uma questão cultural (sou natural do Alentejo), sempre realçaram as minhas características menos agradáveis e até me comparavam com outros “meninos” “melhores” do que eu. Numa das aulas senti imenso desejo de participar num dos “role-playings”, mas o medo e a insegurança apoderaram-se de mim… Parece que tenho de ser “perfeita” para que os outros me amem e aceitem. Senti medo de falhar, de bloquear. Por acaso, há muito que penso em utilizar o psicodrama para me auxiliar na conquista de uma maior confiança.
Chalifour (2002) fala-nos da importância do auto-conhecimento para uma melhor utilização dos recursos pessoais, propondo três tipos de exercícios (todos eles praticados na sala de aula com o professor):

Primeiro tipo de exercícios: centração através da respiração e através de imagens mentais. Este tipo de exercícios, onde calmamente a pessoa ‘viaja’ através do ar que entra nos seus pulmões ou através de uma imagem mental que percorre o seu corpo, permite entrar em contacto com centros energéticos e utilizá-los de forma mais judiciosa e harmoniosa. A sua prática contínua permite obter níveis cada vez maiores de performance na realização e na capacidade de estar atento a si mesmo e ao seu ambiente.

Segundo tipo de exercícios: reflexão. Faz-se um balanço sobre o desenvolvimento pessoal e profissional; os desconfortos, insatisfações quotidianas em casa e no trabalho; a resposta às necessidades fundamentais; a descoberta de si – através de registos escritos. Faz-se ainda uma reflexão, através de exercícios de respiração, de uma maior consciência de si.

Terceiro tipo de exercícios: meditação. Visa, através da concentração no mínimo de pensamentos possível, criar uma espécie de ‘local interior’ para momentaneamente esquecer o seu ser físico e aceder ao seu ‘ser superior’.


A capacidade de introspecção permite reconhecer os nossos próprios estados afectivos, aceitá-los e geri-los de forma equilibrada. Torna-nos também abertos às emoções dos outros para as reconhecer e aceitar. O enfermeiro que é sensível aos seus próprios sentimentos pode sê-lo também em relação aos da pessoa cuidada, o que lhe permite manifestar empatia e proceder de maneira a que ela se sinta compreendida e, segundo Jean Watson (2002), “capaz de ir em direcção a um nível superior de funcionamento e de crescimento”. Este factor é tão importante para a autora que, sem ele, “os cuidados de enfermagem não existiriam”.
Ao reflectirmos sobre os nossos comportamentos como pessoas e profissionais que visam, no fundo, um sentimento de realização e de bem-estar, tornamo-nos mais conscientes do que somos, das nossas inúmeras e infindáveis capacidades, melhoramos exponencialmente a nossa capacidade de relação interpessoal e consequentemente tornamo-nos cuidadores mais eficazes.

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