terça-feira, 21 de abril de 2009

Cuidar: Vida, Saúde, Humanidade

Não se pode falar em Cuidar sem se falar sobre Vida, Saúde e Humanidade. Os conceitos encontram-se interligados num processo dinâmico.

“Qualquer actividade humana, em tudo o que tem efeito sobre os outros e sobre o ambiente, coloca um problema de salvaguarda daquilo que torna possível a nossa existência. Salvaguarda da vida, não apenas nos seus aspectos biológicos, mas também nos seus aspectos existenciais, isto é, salvaguarda da dignidade humana. O cuidado é uma dimensão fundamental do agir humano, no dinamismo de uma energia onde ele reconhece aquilo a que se chama saúde.” Honoré (2004)

“Saúde e vida estão intimamente ligadas, no sentido em que a saúde representa o conjunto das possibilidades que permitem à vida manter-se e desenvolver-se.” Collière (2001)

Ora, falamos em Cuidar para haver Saúde e Vida. A Saúde como definição ou como conceito é de aparição muito recente. SALUT traduz-se em verbo de acção por “eu te saúdo; eu reconheço-te em vida; eu reconheço que tu vives; eu reconheço o que vive em ti.” Numa visão universal da saúde enquanto conceito aplicável a todos os seres vivos, Capra (1983) menciona:

“Para estar são, um organismo deve preservar a sua autonomia individual e simultaneamente ser capaz de se integrar de um modo harmonioso em sistemas mais vastos (…). Esta capacidade de integração está directamente ligada à flexibilidade do organismo e ao conceito de equilíbrio dinâmico.”

Greenberg (1989), numa visão holística, descreve a saúde como uma qualidade de vida que se caracteriza sob o plano:
- da saúde social, pela capacidade de interagir com os outros e com o seu ambiente e de ter relações interpessoais satisfatórias;
- da saúde mental, pela capacidade de aprender e desenvolver as suas capacidades intelectuais;
- da saúde emocional, pela capacidade de dominar as suas emoções de modo a expressá-las no momento oportuno e de forma ajustada;
- da saúde espiritual, pela crença numa força unificadora (a natureza, as leis científicas, a força divina, etc.);
- da saúde física, pela capacidade de realizar as tarefas quotidianas sem sentir um cansaço excessivo e conservando a sua integridade biológica.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde, que tem como objectivo o máximo desenvolvimento possível do nível de saúde de todos os povos, a saúde é “um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não somente a ausência de uma doença ou enfermidade.” No entanto, as pessoas costumam dizer que estão doentes quando a manifestação física já se encontra instalada. Sabemos que toda a manifestação de alguma doença é causada por uma multiplicidade de factores e não por um único factor, tendo em consideração o sistema complexo que é o ser humano. Citando Ogden ( 1999):

“A Psicologia da Saúde tenta afastar-se de um simples modelo linear de saúde e sustenta que a doença pode ter origem numa combinação de factores biológicos (por exemplo, um vírus), psicológicos (por exemplo, comportamentos, crenças) e sociais (por exemplo, emprego). Esta abordagem reflecte o modelo biopsicossocial de saúde e doença, que foi desenvolvido por Engel.”

Sensações de mau-estar como o sofrimento, o desespero, o desânimo, o stress, quando vivenciados de forma prolongada, influenciam o estado de saúde. Inclusivamente há estudos científicos que o comprovam, demonstrando a relação entre o stress “crónico” e o surgimento de cancro, por exemplo.

Para mim, bem-estar também significa um desenvolvimento profundo das nossas capacidades e potencialidades como seres humanos, esses seres extraordinários. O escritor e poeta russo Boris Pasternak escreve em “Doutor Jivago” (1957): “A grande maioria é obrigada a viver uma vida de duplicidade constante e sistemática. A saúde tem de ser afectada quando, dia após dia, se diz o contrário do que se sente, se rasteja diante do que se detesta e se rejubila com o que nada traz senão azar.”
Muitas vezes chego à conclusão de que o ser humano, para viver como ser social e sentir-se amado e integrado pelos pares, não tem a coragem de assumir o que é, não vive em bem estar por não se dar ao cuidado de observar e desenvolver as suas capacidades e potencialidades inatas e únicas. Perdemos a nossa identidade quando cedemos às exigências dos outros ou nos tornamos algo que os outros querem que sejamos para obter a sua atenção ou o seu amor.
Cada um de nós é único e especial e, ao desenvolver as suas potencialidades ao máximo, as consequências serão: alegria, sensação de realização, de sentido, de um real preenchimento, numa aproximação à plenitude do bem-estar.

1 comentário:

Paty disse...

Acho importantíssimo realçar as inúmeras dimensões que o conceito de Saúde abrange..e não o tão tipicamente associado, ou seja, ausência de doença/sintomatologia física!! Creio e sinto que vivemos num mundo e numa sociedade pouco saudável..e por incrível que pareça..cada vez destruímos mais o que de mais saudável ainda resta..poluimos os rios e oceanos, queimamos e derrubamos as árvores das nossas florestas.."queimamos" o que sentimos em prol de um senso comum..para minimizar conflitos..para atenuar ainda mais sentimentos de exclusão..mas de certa forma acabamos por suicidar a nossa personalidade..por isso..força a todas as "almas" que ainda lutam para preservar o que de Saudável existe no nosso Mundo..e força para como tu dizes..gritarmos bem alto o que sentimos..o que somos..com uma sinceridade saudável :)