terça-feira, 21 de abril de 2009

Talvez seja possível um melhor Cuidar

Os dias prósperos não vêm por acaso. Nascem de muita fadiga e muitos intervalos de desalento.Camilo Castelo Branco


Talvez…

… se se planeasse a Educação com base no respeito pela Natureza e pelos outros…

… se se investisse mais nos Cuidados de Saúde Primários e na prevenção (em vez do tardio ‘remédio’ para situações que, muitas vezes, já se tornaram irremediáveis)…

… se se pusesse um ponto final à corrupção das indústrias biotecnológicas, farmacêuticas e de investigação…

… se se pensasse no bem-estar e no desenvolvimento do potencial humano em primeiro lugar e nos lucros económicos em quarto ou quinto lugares…

… fosse possível um melhor cuidar…


Concordo com as premissas da Declaração de Alma-Ata (1978):

“Os Cuidados de Saúde Primários reflectem, e a partir deles evoluem, as condições económicas e as características sócio-culturais e políticas do país e suas comunidades, e baseiam-se na aplicação de resultados relevantes de pesquisa social, biomédica e de serviços da saúde, e da experiência em saúde pública. (…) Têm em vista os problemas de saúde da comunidade, proporcionando serviços de promoção, prevenção, cura e reabilitação, conforme as necessidades. (…) Envolvem, além do sector da saúde, todos os sectores e aspectos relacionados com o desenvolvimento nacional e comunitário, mormente a agricultura, a pecuária, a produção de alimentos, a indústria, a habitação, as obras públicas, as comunicações e outros sectores, e requerem os esforços coordenados de todos os sectores. (…) Requerem e promovem a autoconfiança e a participação comunitária e individual no planeamento, organização, funcionamento e gestão dos cuidados de saúde primários, fazendo o mais pleno uso dos recursos disponíveis, locais, nacionais e outros, e, para esse fim, desenvolvem, através da educação apropriada, a capacidade de participação das comunidades.”

“Todos os governos devem formular políticas, estratégias e planos nacionais de acção, para lançar e sustentar os cuidados de saúde primários em coordenação com outros sectores. Para esse fim, será necessário agir com vontade política, mobilizar os recursos do país e utilizar racionalmente os recursos externos disponíveis.”


Tenho consciência de que ainda estamos muito longe de viver num mundo em que os princípios que acabo de transcrever sejam efectivamente aplicados. É necessário, antes de mais, proceder a uma total mudança de mentalidades. Mas, a meu ver, esta mudança não deve ser simplesmente deixada a cargo dos governantes. Talvez tenha de ter início em Nós, em cada um de nós, com coisas simples – como o nosso cuidar de Enfermagem. Coisas simples e essenciais, que fazem toda a diferença.

“A capacidade de conseguirmos desenvolver gradualmente e de nos colocarmos na posição do doente, faz com que consideremos que são as pequenas coisas e as coisas mais simples é que constituem os cuidados de Enfermagem.” Monforte (2006)

“Quando se atingem os limites de intervenção dos outros prestadores de cuidados, as enfermeiras e os enfermeiros terão sempre a possibilidade de fazer mais alguma coisa por alguém, de o ajudar, de contribuir para o seu bem-estar, para a sua serenidade, mesmo nas situações mais desesperadas”. Hesbeen (2000)


No meu dia-a-dia, esforço-me por respeitar o ambiente, por exemplo, fazendo a selecção do lixo e poupando ao máximo energia e água. Nunca deito lixo no chão e incuto esse hábito nos outros. Relaciono-me com todos com o máximo de respeito, independentemente das suas profissões, títulos, cor da pele, religiões e filosofias de vida. Fico inclusivamente muito transtornada e chamo à atenção quando outros usam a sua “autoridade” para destratar aqueles que consideram inferiores. Acredito que somos todos iguais, importantes e extraordinários. Cada um, com as suas características únicas, contribui para um mundo mais rico. Esforço-me para ser uma boa cuidadora (boa amiga, filha, irmã, tia, sobrinha, prima, enfermeira, colega), tentando ser tolerante com os meus defeitos e os dos outros e, muitas vezes, perdoando a mim própria e aos outros as “falhas” que todos temos.


Como disse Albert Einstein:

"Não pretendemos que as coisas mudem, se sempre fazemos o mesmo. A crise é a melhor bênção que pode ocorrer com as pessoas e países, porque a crise traz progressos. A criatividade nasce da angústia, como o dia nasce da noite escura. É na crise que nascem as invenções, os descobrimentos e as grandes estratégias. Quem supera a crise, supera a si mesmo sem ficar ‘superado’. Quem atribui à crise seus fracassos e penúrias, violenta seu próprio talento e respeita mais aos problemas do que às soluções. A verdadeira crise é a crise da incompetência. O inconveniente das pessoas e dos países é a esperança de encontrar as saídas e soluções fáceis. Sem crise não há desafios; sem desafios a vida é uma rotina, uma lenta agonia. Sem crise não há mérito. É na crise que se aflora o melhor de cada um. Falar de crise é promovê-la, e calar-se sobre ela é exaltar o conformismo. Em vez disso, trabalhemos duro. Acabemos de uma vez com a única crise ameaçadora, que é a tragédia de não querer lutar para superá-la."


Gostaria de lutar por um mundo melhor, de não me permitir acomodar nem “fechar os olhos”. De não ficar adormecida dentro do meu grande potencial, de gritar o meu Ser, como fazíamos nas  estimulantes e divertidas aulas de “Dinâmica de Grupo e Desenvolvimento Pessoal”. O nosso grupo já não existe, mas eu quero continuar o Grito de Grupo, o Grito de Libertação de todos os seres, o Grito da Humanidade! O Grito do Desenvolvimento Pessoal de cada um, dentro das dinâmicas e vicissitudes do extenso Grupo Humano.

4 comentários:

ricardo mota disse...

Olá Teresa...
Interessante o teu blogue... Acho engraçada a forma como abordas uma questão deveras complicada. Também sou enfermeiro, por isso deparo-me diariamente (e não apenas no hospital), com a questão do cuidar. Uma das coisas que aprendi nestes anos de profissão, foi que podemos sempre melhorar ou pelo menos tentar melhorar a forma como cuidamos do outro. Não devemos desistir com os maus exemplos que por vezes encontramos ao nosso lado, mas sim procurar os bons exemplos e tentar-mos ser melhores. Não podemos é esquecermo-nos de cuidar de nós. Se para cuidares de ti tiveres que dar um grito, não hesites.
Felicidades e boa sorte para o teu blogue!

Anónimo disse...

Olá, também sou enfermeira e achei interessante o teu blog. Uma forma criativa e produtiva de desenvolver um portfólio. Pelo que postaste é útil para outros colegas e até para outras pessoas não enfermeiros reflectirem acerca dos seus objectivos pessoais e profissionais. Parabéns. Olá, também sou enfermeira e achei interessante o teu blog. Uma forma criativa e produtiva de desenvolver um portfólio. Pelo que postaste é útil para outros colegas e até para outras pessoas não enfermeiros reflectirem acerca dos seus objectivos pessoais e profissionais. Parabéns. Talvez possamos todas ser melhores pessoas, melhores profissionais…

Anónimo disse...

Olá Teresa. Parabéns pelo teu blogue. Questionas temas muito pertinentes que deveriam fazer parte do quotidiano do enfermeiro e outros profissionais de saúde.
A propósito gostaria de lembrar que os objectivos de enfermagem devem dividir-se a seguinte forma e por esta ordem de importância:
• Desenvolver, capacidades do utente para actuar por sua própria conta.

• Facilitar, afastar obstáculos, reduzindo barreiras aplicando um programa realista para neutralizar os factores negativos.

• Completar, fazer as coisas que o utente e a família não podem, por si mesmo executar.
Ainda cada um de nós não deve esquecer que a mudança começa em nós e que o enfermeiro tem poder para ajudar a mudar a qualidade de vida dos utentes. Afinal a qualidade de vida das pessoas depende de múltiplos e interligados sectores da comunidade, onde a enfermagem está presente de variadas formas, em muitos casos 24 h por dia.

Anónimo disse...

ola
Gosto da tua escrita. Cuidar é certamente a actividade mais importante de ser enfermeira.
Quantas, demasiadas se esquecem disso!
Obrigada por existirem pessoas com tu

Amelia